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Na mercearia, sou cliente!
No restaurante, freguês!
No correio sou remetente!
No passaporte, português!
Quando voto, sou eleitor!
Se oiço a rádio, sou ouvinte!
Na TV, sou tele-espectador!
Nas Finanças, contribuinte!
Quando viajo sou turista!
Se ando a pé sou um peão!
Na alfandega, contrabandista
E na igreja sou cristão!
Se jogo na bolsa, investidor!
No casino, sou um viciado!
Com gravata sou doutor!
Se falo muito advogado!
Se vou à Luz sou Benfiquista!
Em Alvalade, viro Leão!
Se sou do Porto, sou Portista!
Mas nas Antas serei Dragão!
Quando morrer serei finado!
Outros dirão que sou defunto!
Se me queimam sou cremado
E arruma-se logo o assunto.
Em terras d’África perdido
Que registava em seu Diário
Cada infiel convertido.
Certo dia em que o santo
Regressava lá das matas
Um leão, para seu espanto
Agarrou-o com as patas
Ao sentir que ia morrer
Pediu auxílio divino...
Se o conseguisse converter,
Seria outro o seu destino
Tão forte era a sua prece
Tão bem ouvida a oração
Que o milagre acontece...
E converte-se o leão.
A pata esquerda segura a presa,
A direita e a cabeça erguida
O leão antes de comer reza:
“-Abençoai Senhor esta Comida.”!
MINHA MÃE
Eras tão bondosa de coração
Perdoando toda a ofensa
Trazias sempre na mão
O Amor e a recompensa!
Tinhas espírito lúcido e brilhante
Pleno de graça e de humor
Teu sorriso era constante
Com ele enganavas a dor!
Tua cabeça muito nobre
Com uma coroa de neve
Lembrava a nuvem, se chove,
Esvoaçando muito leve!
Teu andar devagarinho
Foi a doença quem parou…
E um dia em teu caminho
A morte se atravessou!
Hoje revendo teu sofrimento
Sentindo perto o meu fim
Não escondo meu sentimento
E choro por ti e por mim!
Vi-te no Outono angustiada
Sem saber qual era a razão
De andares tão preocupada
Com a penúltima estação...
Ela vem como a terceira idade...
Que pouco a pouco te alcança...
E te prepara de verdade
Para voltares a ser criança...
No Outono caem todas as folhas,
Das árvores...se não são perenes!
E os teus olhos quando me olhas
Dizem-me logo o que mais temes!
Mas no Outono das nossas vidas
Quando as folhas já são poucas
São as lágrimas mais atrevidas
E as palavras menos loucas!
29/09/2009
José Mota
Maldita nicotina que tiraste |
O Manuel, reformado da CP tinha uma casinha com lareira, jardim à frente e quintal nas traseiras.
O Inverno aproximava-se, o frio viria de certeza bem antes do Natal.
Foi previdente: comprou uns toros de sobreiro para acender a lareira,mas o reumático não permitia que ele preparasse a lenha…
Quando tentava levantar o machado…lá vinham as dores do costume…
Mas ele tinha um vizinho amigo, aposentado da PSP, com quem todas as noites jogava damas, xadrez, dominó…e quando as respectivas esposas se despachavam das cozinhas…já havia quatro parceiros para a sueca.
Eram uns grandes amantes do desporto televisivo que praticavam no sofá: não perdiam os jogos dos maiores, discutiam os lances, os resultados e as decisões dos árbitros.
Ora o vizinho do Manuel, que sofria tanto do reumático, ou mais que ele ainda, ao tomar conhecimento do problema dos toros de madeira por rachar, ofereceu-se para resolver tudo até ao Natal e até apostou que a tarefa seria cumprida.
… … …
Na esquadra da polícia, o telefone toca:
-Estou! - Atende um agente - Em que posso ajudá-lo?
-Quero fazer uma denúncia: O meu vizinho esconde droga nos toros da lenha que tem no quintal…
O agente anotou a morada e na hora seguinte a casa do Manuel estava cercada, os cães farejavam por todo o lado, ninguém entrava nem saia e uma brigada especial rachou os toros todos á procura de droga.
Como não acharam nada retiraram-se furiosos, jurando castigar o falso denunciante se o identificassem.
Desmontado o aparato policial. Toca o telefone do Manuel. Era o vizinho.
-Então que se passa por aí?
-Sei lá! - Responde o Manuel – Vieram, mexeram, farejaram e depois foram-se embora…
-Mas racharam-te a lenha toda….Foi a minha prenda de Natal !!!
Nem só de ladrões e ladras
Vive a Feira em questão
Vive dos pequenos nadas
Que temos ali sempre à mão.
Na barraca das ferramentas
Podes achar de tudo
Desde chaves ferrugentas
Até às luvas de veludo
Dois martelos de orelhas
Um alicate e dois formões
Seguram as capas velhas
Dos sonetos de Camões
O Cúmulo das heresias
É a miniatura do Cristo Rei
Em cima de fotografias
Tão porcas que nem sei!!!
Há peças de computadores
Em perfeita harmonia
Com os dois contadores
O da água e o da energia
Há pregos e parafusos
De toda a forma e tamanho
Para os mais diversos usos.
Também há solda de estanho
Vi atados por um cordel
Vários livros bem notáveis,
Embrulhados num papel
Descobri “ Os Miseráveis”
A Bíblia Sagrada repousa
Sem pejo, no maior descaro,
Entre o Frei Luís de Sousa
E O Crime do Padre Amaro
Vídeos de pornografia
Cds de música pirata
Convivem todo o dia
Com dois cinzeiros de prata
Tudo isto Lisboa tem
Só a dois passos da Graça
E até São Vicente cá vem
Abrir portas a quem passa
Cristo viu que a Madalena
Ia morrer apedrejada...
E achou que valia a pena
Salvar a desgraçada
Depois de lhe perdoar
Os pecados conhecidos
Tratou de a livrar
Dos Judeus enfurecidos
Todo aquele que nunca errou
Seja o primeiro a atirar!!!
Jesus Cristo assim falou.
O povo já recuava
Quando um tijolo voava
E em cheio acertava
Na Maria arrependida.
Cristo muito entristecido
Repreendeu aquele “traste”
E perguntou decidido:
“Será que nunca erraste?”
Responde, meu irmão!
Diz a verdade e sem receio.
-“A esta distância... não!
Acerto sempre em cheio”!!
Ler mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=53966#ixzz1Tg9sHWgi
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Temos um gato ternurento
Que foi na rua encontrado
em dia de chuva e vento,
junto dum carro abandonado
Ouvimos o miar...o lamento
do animal desesperado...
-Olha como ele mia...
E já alguém pedia:
-Apanha-me esse gatinho,
com ele eu quero ficar…
-Olha como é branquinho...
Vês? Já deixou de miar!!!
Em casa teve os desvelos
Que nunca ninguém lhe dera.
Penteamos-lhe os pêlos,
Numa caixa pusemos terra...
Nem era de acreditar
o que a seguir se passou:
pôs-se a esgravatar
e sem ninguém o ensinar,
logo ali aliviou
a bexiga e o intestino...
E ainda por cima deixou
tudo bem tapadinho...
Tivemos que vir á rua.
Era a primeira vez
que ficava por conta sua
E vejam o que nos fez:
Entrou no gavetão
da roupa de flanela,
deu tanta volta nela,
aquele maganão
que ficou prisioneiro
ali, um dia inteiro.
Não comeu nem bebeu,
também não sujou nada,
Entrou...e...adormeceu
na fronha duma almofada !!!
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